Quem Foi São João Batista?

27/06/2024
'São João Batista apontando para Cristo', de Carlo Maratta (1625-1713). (Wikimedia Commons / Obra de arte de domínio público)
'São João Batista apontando para Cristo', de Carlo Maratta (1625-1713). (Wikimedia Commons / Obra de arte de domínio público)

O que sabemos sobre o misterioso João Batista? Aqui estão 11 coisas para saber e compartilhar...

João Batista é uma figura misteriosa no Novo Testamento.

Ele era famoso em sua própria época, mesmo antes de se tornar o arauto de Cristo.

Sabemos sobre ele até mesmo fora do Novo Testamento.

A Solenidade da Natividade de São João Batista é em 24 de junho, e o Memorial da Paixão de São João Batista é em 29 de agosto, portanto, é um excelente momento para se atualizar sobre ele.

Aqui estão 11 coisas para saber e compartilhar...

1) Qual era o parentesco de João Batista com Jesus?

João era parente de Jesus por meio de suas mães. Em Lucas 1, 36, Isabel é descrita como "parenta" de Maria, o que significa que eles tinham algum tipo de parentesco por meio de casamento ou sangue.

O mais provável é que fosse uma relação de sangue, mas não particularmente próxima ou distante.

Isabel, por ser idosa, pode ter sido uma tia, tia-avó ou um dos muitos tipos de "primos". A relação exata não pode ser determinada.

Isso significa que Jesus e João eram primos em um ou outro sentido do termo.

2) Quando começou o ministério de João Batista?

Lucas nos dá uma data extraordinariamente precisa para o início do ministério de João. Ele escreve:

No ano décimo quinto do império de Tibério César, … a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele percorreu toda a região do Jordão, proclamando um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados (Lc 3, 1-3).

"No ano décimo quinto do império de Tibério César" é mais naturalmente entendido como uma referência ao ano 29 d.C.

Isso também é importante porque Lucas sugere que o ministério de Jesus começou logo após o de João, o que coloca a data provável do batismo de Jesus no ano 29 ou no início do ano 30 d.C.

3) Por que João veio batizando?

As Escrituras nos apresentam vários motivos.

Ele serviu como precursor ou arauto do Messias e deveria se preparar para Ele cumprindo um papel semelhante ao de Elias, chamando a nação ao arrependimento.

De acordo com isso, ele batizava as pessoas em sinal de arrependimento.

Ele também veio para identificar e anunciar o Messias. Segundo João Batista: "Eu não o conhecia, mas vim batizar em água, para ele ser reconhecido em Israel" (Jo 1,31).

Essa identificação foi feita quando ele batizou Jesus:

"Vi o Espírito descer do céu em forma de uma pomba e repousar sobre ele. Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar com água disse-me: 'Sobre quem vires descer e repousar o Espírito, este é quem batiza no Espírito Santo'. Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus" (Jo 1, 32-34).

4) Como a prisão de João afetou Jesus?

Os evangelhos indicam que os primeiros ministérios de João Batista e de Jesus ocorreram na Judeia, na parte sul de Israel, perto de Jerusalém.

Mas João foi preso por Herodes Antipas, o governante da Galileia e da Peréia, que incluía parte do deserto perto de Jerusalém.

Isso levou Jesus a começar seu ministério na Galiléia:

Ao ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galiléia (Mt 4,12).

5) O que João tem a nos ensinar sobre a moral no trabalho?

Bastante! Ele foi questionado tanto por cobradores de impostos quanto por soldados sobre o que precisavam fazer para estar de bem com Deus.

Ambas as posições exigiam cooperação com o Império Romano, e eles estavam se perguntando se teriam de deixar seus empregos.

João lhes disse que não, mas que fizessem seu trabalho de maneira justa. Isso é importante para nós hoje, pois muitos são obrigados a cooperar com empregadores, estados e corporações que estão - em parte - envolvidos em ações imorais.

Nós lemos:

Alguns publicanos também vieram para ser batizados e disseram-lhe: "Mestre, que devemos fazer?"

Ele disse: "Não deveis exigir nada além do que vos foi prescrito".

Os soldados, por sua vez, perguntavam: "E nós, que precisamos fazer?"

Disse-lhes: "A ninguém molesteis com extorsões; não denuncieis falsamente e contentai-vos com o vosso soldo" (Lc 3, 12-14)

6) João Batista era Elias reencarnado?

Não. Na época de Jesus, os escribas previram que Elias voltaria antes da vinda do Messias.

Em um determinado momento, Jesus estava discutindo sobre João Batista e disse: "E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que deve vir" (Mt 11, 14).

Isso levou alguns adeptos da Nova Era a afirmar que João Batista era a reencarnação de Elias.

Há vários problemas com isso. O principal deles é o fato de Elias nunca ter morrido.

Se você ler 2 Reis 2, 11, verá que, em vez de morrer, Elias foi levado ao céu por um redemoinho (texto bíblico aqui).

Como Elias nunca morreu, ele não poderia reencarnar.

Ao identificar João Batista como o "Elias" que viria, Jesus indicou que o cumprimento da profecia de Elias não deveria ser interpretado de forma literal como os escribas de sua época o faziam.

O próprio Elias não deveria voltar e percorrer a Judéia, ministrando às pessoas. Em vez disso, alguém como Elias deveria aparecer e fazer isso, e essa pessoa era João Batista.

7) Qual era a fama de João Batista em sua própria época?

É fácil para nós pensar em João Batista como simplesmente o precursor e arauto de Cristo, mas ele era bastante famoso em sua própria época.

Dois pontos deixam isso bem claro:

  1. O movimento que ele iniciou acabou tendo seguidores em terras distantes.
  2. Temos informações sobre ele fora do Novo Testamento.

8) Como ele conseguiu seguidores fora de Israel?

Aparentemente, por meio da pregação de pessoas que divulgaram sua mensagem em outros lugares.

Um deles parece ter sido Apolo, que mais tarde se tornou um evangelista cristão.

De acordo com Atos:

Um judeu, chamado Apolo, natural de Alexandria, havia chegado a Éfeso. Era um homem eloqüente e versado nas Escrituras.

Tinha sido instruído no caminho do Senhor e, no fervor do espírito, falava e ensinava com exatidão o que se refere a Jesus, embora só conhecesse o batismo de João.

Aparentemente, Apolo tinha algum conhecimento sobre a conexão entre João Batista e o Messias, mas apenas um conhecimento limitado. Ele não sabia sobre o batismo cristão e a diferença entre ele e o batismo de João (Atos 18, 24-25).

Áquila e Priscila lhe deram conhecimento suplementar para completar sua compreensão da mensagem cristã (Atos 18, 26-28), mas a notícia aparentemente não chegou a todos os seus seguidores no início.

Quando São Paulo retornou a Éfeso, ele encontrou cerca de uma dúzia de seus aparentes discípulos em Éfeso, que tinham ouvido falar do batismo de João, mas não do batismo cristão e do Espírito Santo (Atos 19, 1-7). Aparentemente, esses eram convertidos por Apolo com base em seu conhecimento do movimento de João Batista, antes de conhecer a mensagem completa de Cristo.

9) Quem matou João Batista?

Teria sido Herodes Antipas, um dos filhos de Herodes, o Grande, que herdou as regiões da Galileia e da Peréia como seus territórios.

Os evangelhos o retratam como um homem complexo. Para começar, ele tem um casamento ilegal. Em algum momento, ele aparentemente roubou Herodias, a esposa de seu irmão Herodes Filipe.

Isso o colocou em oposição a João Batista, que se opôs à união (Mc 6,18), levando Herodes a prender João (Mt 14, 3).

Embora tivesse João sob custódia, e embora sua esposa o odiasse e quisesse matá-lo, Herodes Antipas serviu como protetor de João e tinha um fascínio incomum pelo pregador ardente: "Herodes temia João, sabendo que ele era um homem justo e santo, e o mantinha em segurança. Quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas o ouvia com prazer" (Mc 6, 20).

Nem mesmo a morte de João acabou com a fascinação de Antipas por ele. Quando começou a ouvir relatos sobre Jesus, ele pensou que Jesus poderia ser João ressuscitado dos mortos (Mc 6, 14) e buscava ocasião de ver Jesus pessoalmente (Lc 9, 9).

10) Por que João foi morto?

A esposa de Herodes Antipas, Herodíades, odiava João com paixão. (Presumivelmente por ter criticado publicamente a traição de seu ex-marido - Herodes Filipe - e por ter se casado com o irmão dele).

Por fim, depois que sua filha Salomé encantou Antipas com uma dança especial em sua festa de aniversário, Herodias conseguiu manipulá-lo para que desse a ordem para a morte de João por decapitação (Mc 6, 21-28).

11) Onde aprendemos sobre João Batista fora do Novo Testamento?

No historiador judeu Fávio Josefo (História dos Hebreus) . Ele registra que um dos exércitos de Herodes foi destruído no ano 36 d.C. e afirma:

Vários judeus julgaram a derrota do exército de Herodes um castigo de Deus, por causa de João, cognominado Batista. Era um homem de grande piedade que exortava os judeus a abraçar a virtude, a praticar a justiça e a receber o batismo, para se tornarem agradáveis a Deus, não se contentando em evitar o pecado, mas unindo a pureza do corpo à da alma.

Como uma grande multidão o seguia para ouvir a sua doutrina, Herodes, temendo que ele, pela influência que exercia sobre eles, viesse a suscitar alguma rebelião, porque o povo estava sempre pronto a fazer o que João ordenasse, julgou que devia prevenir o mal, para depois não ter motivo de se arrepender por haver esperado muito para remediá-lo.

Por esse motivo, mandou prendê-lo numa fortaleza em Maquera, de que acabamos de falar, e os judeus atribuíram a derrota de seu exército a um castigo de Deus, devido a esse ato tão injusto (Antiguidades dos Judeus 18, 5:2).

Os detalhes do relato de Josefo diferem dos evangelhos. Aparentemente, ele não estava ciente do papel de Herodíades e de sua filha na questão, ou do complexo relacionamento de Herodes com João, e atribui a ele a suspeita padrão de um líder profético que qualquer governante da época poderia ter.

É provável que a comunidade cristã tenha tomado conhecimento de mais detalhes por meio de uma mulher chamada Joana, esposa de um homem chamado Chuza, que era mordomo de Herodes Antipas e, portanto, um membro da corte.

Joana era uma das seguidoras de Jesus (Lc 8,1-3), e é bem possível que tenha sido por meio dela que as informações mais detalhadas chegaram.

Autor: Jimmy Akin

Original em inglês: National Catholic Register