Preparando-se Para A Quaresma: Uma Reflexão Sobre O Salmo 90

19/02/2022

Senhor, foste para nós um refúgio 


de geração em geração.


Antes que os montes tivessem nascido 


e fossem gerados a terra e o mundo, 


desde sempre e para sempre tu és Deus.


Fazes o mortal voltar ao pó, 


dizendo: "Voltai, ó filhos de Adão!" 


Pois mil anos são aos teus olhos 


como o dia de ontem que passou, 

 
uma vigília dentro da noite!


Tu os inundas com sono, 


eles são como erva que brota de manhã:


de manhã ela germina e brota, 


de tarde ela murcha e seca.

- Salmo 90, 1 - 6

Minha avó paterna, como muitos que estão morrendo, queria que um de nós lesse para ela sua gasta Bíblia. Os Salmos foram um conforto especial para ela, e nos deu algo para fazer enquanto estávamos ao lado de sua cama, impotentes, vendo-a desaparecer desta terra.

A Quaresma nos lembra que fomos criados do nada e que o sopro de Deus, Sua essência, é o que nos deu vida e nos mantém vivos. Poeira e cinzas, terra e articulações - essas são metáforas vívidas para nos tornar sóbrios quando nos esquecemos quem somos e de Quem somos.

Não é macabro nem desesperador nos considerarmos compostos de pó e cinzas. Muito pode emergir da meditação sobre nossa pequenez e finitude, à luz da vastidão e infinidade de Deus. A Quaresma é um tempo litúrgico que nos convida a retornar à Fonte de nosso ser, a lembrar a natureza cíclica da vida e da morte e a meditar sobre nossa própria mortalidade com grande esperança.

É a misericórdia de Deus que nos sustenta.

Os Salmistas sabiam bem disso. O Salmo 90 começa com a lembrança de que Deus é eterno e criou todas as coisas: "Antes que os montes tivessem nascido e fossem gerados a terra e o mundo, desde sempre e para sempre tu és Deus". Faríamos bem em começar nossa jornada quaresmal com isso em mente.

Comece cada oração com apreço pela natureza eterna de Deus e o dom de Sua escolha por entrar no tempo e se tornar um de nós. Pense na beleza que o cerca ao longo do seu dia - os bosques perto de sua casa, as variedades de pássaros migrando nesta época do ano, as flores começando a brotar acima da terra.

Podemos então passar a meditar sobre a infinita misericórdia e bondade de Deus. Embora estejamos a um mero sopro da extinção - "Pois tu és pó e ao pó tornarás " - Deus nos sustenta. Ele nos dá chance após chance. O amanhecer nos lembra que, à medida que o sol se eleva acima do horizonte, também nos foi dado um novo dia para acertar as coisas onde pecamos no dia anterior.

Ainda há tempo para fazer reparações. É agora.

O Salmista começa reconhecendo a vasta natureza de Deus que não pode ser sondada pelo pensamento ou palavra humana. Então ele nos leva para a realidade chocante de nossa mortalidade, que temos um começo e um fim - "Fazes o mortal voltar ao pó". Novamente, a imagem do tempo passa diante do leitor com a próxima frase - "Pois mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou" - a partir daí podemos apenas começar a imaginar o que mil anos podem ser para nós, que vivemos apenas cerca de cem anos.

Para Deus, o tempo não é longo nem curto, porque Ele existe fora do tempo. Ele criou o tempo. No entanto, Ele escolhe entrar no tempo por nossa causa, por amor. Isso é uma misericórdia além da imaginação.

Então lemos que esses mil anos são "como o dia de ontem que passou" como "uma vigília dentro da noite". Dormimos, sem saber o que acontece enquanto nossa mente consciente vai se desligando. O Salmista está construindo a tensão para nós, enquanto imaginamos nossas próprias vidas como um vento fugaz, uma hora aqui e depois sem aviso prévio não estamos mais.

Esta parte termina com o ciclo de volta à vida a partir da morte: "eles são como erva que brota de manhã: de manhã ela germina e brota, de tarde ela murcha e seca". Assim como flores delicadas desabrocham com o sol da manhã, elas murcham com a primeira geada do outono.

A Quaresma nos leva a dar uma pausa para considerar que somos como essas flores e ervas, a passagem do tempo em cada batida de nossos corações. Nós "brotamos" ao nascer como recém-nascidos rosados e enrugados, repletos de uma vida plena pela frente, mas nossas vidas desaparecem - algumas mais cedo do que outras. A "noite" da vida de uma pessoa pode ser muito jovem, enquanto outra vive até os noventa anos.

Mas todos nós florescemos, e todos nós murchamos. A Quaresma nos coloca na história da Paixão, para que nossas almas sejam despertadas de seu longo sono espiritual. Temos a chance de ser as virgens vigilantes que esperavam seu noivo, em vez das tolas que adormeceram. Quando vivemos com nossas almas fervorosas para receber o Espírito Santo, voltamos a viver mais uma vez quando Ele nos incita a nos mover.

Ele pode dormir ou pode agir, mas podemos nos abrir para o que Ele quiser, quando Ele quiser.

Autora: Jeannie Ewing

Original em inglês: Catholic Exchange