Por Que Jesus Foi Batizado Se Ele Não Tinha Pecado?
Quando o Senhor Jesus foi ao Rio Jordão para ser batizado, São João Batista sabia que Jesus não precisava do batismo.
Ele ficou surpreso (talvez até horrorizado) com o pedido de Jesus, dizendo:
"Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim?" - S. João Batista, Mateus 3,14
Nosso Senhor lhe respondeu:
"Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa." - Jesus, Mateus 3,15
"Convém cumpramos a justiça completa."
Assim fala Jesus, misteriosamente.
Mas... o batismo é para os pecadores. Por que o santíssimo Filho de Deus procuraria ser batizado?
De volta ao básico: o que é o batismo, realmente?
Antes de responder a esta importante pergunta, vamos revisar o básico.
O que é o sacramento do batismo?
O batismo é:
Um Sacramento de regeneração pela palavra na água.
Por natureza, nascemos de Adão como filhos da ira, mas o Batismo nos faz renascer em Cristo como filhos da misericórdia .
Pois [Cristo] deu aos homens "o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em Seu nome; [aos] que não nasceram do sangue , nem do apetite da carne , nem do desejo do varão, mas [que nasceram] de Deus. - Catecismo de Trento
O Catecismo nos diz que nosso batismo nos une a nosso Senhor:
O Batismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados, porque nos une a Cristo, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação, a fim de que «também nós vivamos numa vida nova». - Catecismo da Igreja Católica (977)
É claro que o próprio Jesus não precisava ser regenerado ou renovado.
E Ele É o Filho de Deus. Ele não precisava do batismo para se tornar um filho de Deus.
Portanto, o batismo de Jesus não foi o batismo que nós recebemos, nós que somos pecadores e devemos renascer e nos tornar filhos de Deus.
Mas tudo o que Jesus fez tinha um propósito. Seu batismo (do qual Ele pessoalmente não precisava) tinha um propósito real.
Aqui estão quatro razões pelas quais - de acordo com vários Padres da Igreja, papas e teólogos - Jesus escolheu receber o batismo nas mãos de João Batista.
1. Jesus se Associa aos Pecadores Enquanto se Prepara para Assumir Seus Pecados.
O que é verdadeiramente novo é que Jesus queira ser batizado, que entre na multidão triste dos pecadores, que aguardam nas margens do rio Jordão. - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré
Jesus, que se fez homem e é como nós em tudo, menos no pecado (Hebreus 4,15), humilhou-se a Si mesmo para nos salvar.
Isto é, Ele se associou aos pecadores. Ele voluntariamente carregou nosso fardo insondável de pecado e o levou à cruz.
Jesus tomou sobre os seus ombros o peso da culpa de toda a humanidade; levou-a pelo Jordão abaixo. Ele inaugura o seu ministério inserindo-se no lugar dos pecadores. Ele inaugura-o com a antecipação da cruz. - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré
Jesus veio para resgatar os pecadores do destino inescapável da separação eterna de Deus.
Ele veio para pagar o preço que não podíamos, para suportar o chicote sangrento que representa a inumerável e terrível variedade de consequências da vida real resultantes de nossas próprias escolhas corruptas:
... ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. - Isaías 53, 5
Jesus, que não conheceu pecado e ainda assim sofreu os efeitos do pecado (cf. 2Coríntios 5, 21), ficou no lugar dos pecadores.
Vislumbramos isso quando Ele foi até João Batista, misturando-se com uma multidão de pecadores que buscavam o batismo, ombro-sagrado a ombro-pecador com humanidade miserável.
2. Jesus Santificou as Águas da Pia Batismal Com Sua Carne Pura.
Muitos dos Padres da Igreja e grandes teólogos ensinam uma coisa fascinante: que Jesus, quando desceu ao Jordão e nele foi submerso, estava santificando as águas batismais que agora derramam sobre nós enquanto somos segurados - ou curvados - na pia batismal.
Veja como isso é descrito primeiro, pelo Concílio de Trento, e depois pelos próprios Padres da Igreja:
Nosso Senhor instituiu este Sacramento [o batismo], quando conferiu à água a virtude de santificar, na ocasião que Ele mesmo se fez batizar por São João.
Nosso Senhor recebeu o Batismo, não porque precisasse de purificação, mas para que ao contato com o Seu Corpo puríssimo as águas se purificassem, e adquirissem a virtude de purificar - Catecismo de Trento
Nosso Senhor recebeu o Batismo, não porque precisasse de purificação, mas para que ao contato com o Seu Corpo puríssimo as águas se purificassem, e adquirissem a virtude de purificar. - St. Agostinho
O Senhor foi batizado, não por querer purificar-se; mas para purificar as águas que, purificadas assim pelo corpo de Cristo, isento de pecado, pudessem servir para o batismo. - St. Ambrósio (citado por St. Tomás de Aquino em sua Summa Theologica)
"[Jesus foi batizado] a fim de deixar para o futuro as águas santificadas para os que devessem ser batizados." - S. João Crisóstomo (citado por St. Tomás de Aquino em sua Summa Theologica)
Agora, a cena misteriosa no Rio Jordão tem um significado totalmente novo.
A confusão aparente é transformada profundamente e que podemos refletir com admiração silenciosa.
3. O Batismo de Jesus Simboliza Sua Morte e Ressurreição.
O Papa Bento XVI explica o simbolismo do ritual do batismo.
Por um lado, a imersão nas águas é um símbolo de morte, lembrando a morte e a destruição do dilúvio. Por outro lado, as águas correntes do Rio Jordão são também, e sobretudo, um símbolo de vida.
O Papa Bento XVI nos ajuda a entender tudo isso quando explica que o significado desse evento não poderia emergir plenamente até que fosse visto à luz da Cruz e da Ressurreição:
"Não sabeis o que pedis - retorquiu Jesus -. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou ser batizado?" - Marcos 10, 38
"Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!" - Lucas 12, 50
O Papa Bento XVI nos ajuda a reunir tudo, quando ele descreve isso como um ponto de partida para nossa compreensão do batismo cristão:
O batismo de Jesus, o seu levar "toda a justiça", só na cruz é que se revela: o batismo é a aceitação da morte pelos pecados da humanidade, e a voz do batismo - "Este é o meu filho bem-amado" - é já um chamado de atenção para a ressurreição. Assim se compreende também como na própria linguagem de Jesus a palavra "batismo" aparece como designação da sua morte - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré
A resposta para a pergunta de por que Jesus foi batizado está, em última análise, em Sua paixão e morte na cruz. O Cântico do Servo Sofredor em Isaías compara o servo sofredor de Deus com o cordeiro que é levado ao matadouro. O pastor que se fez ovelha é o Cordeiro pascal.
A palavra acerca do "cordeiro de Deus" interpreta, se assim podemos dizer, o caráter teológico do batismo de Jesus já iluminado a partir da cruz, da sua descida na profundidade da morte. Todos os quatro Evangelhos referem, em modos diferentes, que, ao sair Jesus das águas, o céu "rasgou-se", abriu-se; que o Espírito "como uma pomba" desceu sobre Ele e que nesse momento foi ouvida uma voz do céu, a qual segundo S. Marcos e S. Lucas se dirige a Jesus "Tu és..." ao passo que segundo S. Mateus diz acerca d'Ele: "Este é o meu filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado". - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré
4. Jesus Embarca em Sua Missão para nos Salvar em Seu Batismo.
A descida do Espírito Santo sobre Jesus, que conclui a cena batismal, também é referida como o tempo da unção.
A descida do Espírito Santo sobre Jesus, que encerra a cena do batismo, institui formalmente o seu ministério. Por isso os Padres viram neste processo, com razão, uma analogia com a unção, com a qual os reis e os sacerdotes eram instituídos no seu ministério em Israel. A palavra Messias-Cristo significa "o ungido": a unção era considerada, na Antiga Aliança, o sinal visível da dotação com os talentos do ministério, com o Espírito de Deus...
Segundo o relato de S. Lucas, Jesus apresentou-se a si mesmo e à sua missão na Sinagoga de Nazaré com uma citação análoga de Isaías: "O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor me ungiu" (Lc 4,18; Is 61,1). - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré
Como o tão esperado Messias, o Ungido, a missão de Jesus o leva primeiro ao deserto "para ser tentado pelo diabo" e, finalmente, como o Papa Bento tão bem coloca...
A missão consiste em descer aos perigos do homem, porque só assim pode o homem caído ser levantado: Jesus deve (isso pertence ao cerne da sua missão) penetrar no drama da existência humana, atravessá-lo até seu último fundo, para encontrar a "ovelha perdida", colocá-la nos seus ombros e levá-la para casa. - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré
Conclusão
Agora entendemos por que o Filho de Deus sem pecado, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, foi batizado.
Jesus Se associou a nós, pecadores, levando sobre Seus ombros o indescritível fardo do pecado.
Ele santificou as águas futuras da pia batismal, permitindo-nos receber o Sacramento do Batismo e ser salvos do fogo eterno do inferno.
Ele prenunciou Sua morte e ressurreição, que Ele abraça em nosso nome.
Por fim, Ele recebeu formalmente Sua unção e, com ela, Sua missão.
Por Ele, pelo Seu batismo e pelo mistério pascal, somos resgatados da escravidão do pecado e nossa dignidade é restaurada.
Tudo o que se passou com Cristo dá-nos a conhecer que, depois do banho de água, o Espírito Santo desce sobre nós do alto dos céus e, adoptados pela voz do Pai, tornamo-nos filhos de Deus. - Catecismo da Igreja Católica, 537
Louvado seja Jesus Cristo, agora e pelos séculos dos séculos!
Autor: Genevieve Cunningham
Original em inglês: Good Catholic