O Que É O Sofrimento Redentor?
A palavra "redimir" significa socorrer, libertar, resgatar e pagar a penalidade incorrida por outra pessoa. Muitas vezes perdemos de vista a definição de "libertar" e perdemos o poder de nosso exemplo como cristãos para fazer exatamente isso - libertar nosso próximo.
Devemos observar esse aspecto do Sofrimento Redentor se quisermos entender seu papel em nossa vida diária. São Paulo disse aos coríntios que, "com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. Porque, à medida que crescem em nós os sofrimentos de Cristo, cresce também por Cristo a nossa consolação" (2Cor 1, 5, 6).
Paulo não queria que os sofrimentos enfrentados pelo fato de ser cristão desencorajassem ou desanimassem ninguém. Ele percebeu que, quando os cristãos vissem as bênçãos e a graça que foram derramadas sobre ele depois de suas muitas provações, eles ganhariam coragem para sofrer por sua vez. O exemplo de fortaleza e fidelidade exibido por esse homem de Deus os libertou dos grilhões do medo e da covardia.
Paulo sabia que o exemplo de cada virtude de Cristo era tão redentora quanto Sua morte. Pelo exemplo de sua vida santa, o cristão deveria libertar seu próximo da escravidão do pecado na qual ele estava imerso. A santidade alcança a todos e lhes dá coragem para seguir os passos de Jesus. O sofrimento do cristão era aceitável ao Pai para a salvação da humanidade porque ele estava tão unido a Jesus por meio da graça do Espírito Santo e porque, independentemente do que ele sofresse, Jesus sofria nele. "Fico feliz", disse Paulo aos colossenses, "em sofrer por vocês, como estou sofrendo agora, e em meu próprio corpo fazer o que posso para compensar tudo o que Cristo ainda tem de sofrer por causa do Seu Corpo, a Igreja" (Cl 1, 24). É Jesus quem continua a sofrer no cristão para o bem de toda a humanidade.
Tudo o que fazemos ao nosso próximo, fazemos a Jesus, e todos os sofrimentos que nosso próximo enfrenta em sua vida diária ajudam a construir o Corpo Místico de Cristo. Para Paulo, tudo o que ele sofreu foi pelos cristãos a quem ele pregava e por aqueles que estavam por vir. "E quero que saibais", disse ele, "como é grande a luta em que me empenho por vós… e por todos quantos não me conhecem pessoalmente" (Cl 2, 1).
Qual era o propósito de todo esse sofrimento pelos outros? "Para que sejam confortados os seus corações, unidos no amor", ele lhes disse, "e para que eles cheguem à riqueza da plenitude do entendimento" (Cl 2 2).
Paulo ofereceu seus sofrimentos para o bem de seus irmãos, os judeus, pois disse a Timóteo: "Pelo qual estou sofrendo até as cadeias como um malfeitor. Mas a Palavra de Deus, esta não se deixa acorrentar. Pelo que tudo suporto por amor dos escolhidos, para que também eles consigam a salvação em Jesus Cristo, com a glória eterna." (2 Tm 2, 9-10, ênfase adicionada).
Aqui temos o Sofrimento Redentor oferecido a Deus para o bem dos outros. O desejo de Paulo de sofrer por seus irmãos chegou quase ao extremo, pois um dia ele disse: "Sinto grande pesar, incessante amargura no coração. Porque eu mesmo desejaria ser reprovado, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu, segundo a carne. Eles são os israelitas; a eles foram dadas a adoção, a glória, as alianças, a Lei, o culto, as promessas" (Rm 9, 2-4). Paulo sabia que Deus nunca exigiria esse preço para a salvação de outros, mas ele foi ao extremo em seu desejo de sofrer pelos outros para que eles também pudessem conhecer Jesus e desfrutar de Seu Reino.
Paulo até pensou que Deus usaria sua conversão para o bem de outras pessoas. Ao escrever para Timóteo, ele disse: "Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro. Se encontrei misericórdia, foi para que em mim primeiro Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade e eu servisse de exemplo para todos os que, a seguir, nele crerem, para a vida eterna." (1Tm 1, 15-16).
Deus usaria a manifestação de Sua misericórdia para com Paulo como uma oportunidade para a conversão de outras almas. Grandes pecadores ao longo dos tempos olhariam para Paulo em busca de coragem e força. Sim, o sofrimento e a humilhação que Paulo suportou foram redentores, pois libertaram os pecadores do medo e os fizeram olhar para Deus em busca de misericórdia.
Jesus disse a Seus Apóstolos na Última Ceia que "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos" (Jo 15, 13). Jesus deu Sua vida por nós e deseja que façamos o mesmo por nosso próximo se e quando essa oportunidade se apresentar. Um soldado dá a vida por seu país e é um herói porque seu ato de sacrifício é altruísta - ele morre para que outros possam viver em paz. Não se pede que a maioria dos cristãos faça o sacrifício supremo, mas Deus escolhe alguns para participarem da salvação das almas, não por desistirem de suas vidas, mas por suportarem sofrimentos que vão além do que precisam para si mesmos. Todos aqueles cujo sofrimento é Redentor podem dizer com São Paulo: "Por isso, vos rogo que não desfaleçais nas minhas tribulações que sofro por vós: elas são a vossa glória" (Ef 3,13).
Cada dor que suportamos com amor, cada cruz suportada com resignação, beneficia cada homem, mulher e criança no Corpo Místico de Cristo. Aqueles que são escolhidos para suportar uma porção maior de sofrimento do que outros são chamados por Deus para curar as almas de muitos, cujas vidas estão desprovidas do conhecimento e do amor de Deus. O Sofrimento Redentor não só ajuda diretamente os pobres pecadores, sofrendo por eles, mas também edifica e consola as almas boas e santas em sua jornada pela vida, buscando a santidade. Esse duplo papel do Sofrimento Redentor merece, para aqueles escolhidos por Deus para esse papel, uma glória e felicidade no Reino além de nossos conceitos ou imaginação. Como Jesus, seus sofrimentos, unidos aos Dele, sobem ao Céu e obtêm graça e arrependimento para aqueles que estão se afastando de Deus e de Seu Amor.
Autora: Madre Angelica
Original em inglês: Catholic Exchange
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Carta Apostólica Salvifici Doloriso, sobre o Sentido Cristão do Sofrimento Humano - Papa João Paulo II