Não Temos Uma Crise Vocacional,
Temos Uma Crise De Fé
Muito se tem falado sobre a suposta crise vocacional na Igreja Católica dos Estados Unidos nos últimos anos. As partes preocupadas apontam para o número decrescente de padres e argumentam que estamos enfrentando uma escassez terrível que ameaça o futuro de nossas paróquias. No entanto, um exame mais detalhado dos dados revela uma história diferente - uma história que sugere que a verdadeira crise que enfrentamos não é de vocações, mas de fé.
De acordo com o Center for Applied Research in the Apostolate (CARA)*, o número de sacerdotes diocesanos nos EUA de fato diminuiu de 37.272 em 1970 para 24.110 em 2022. Ao mesmo tempo, a população católica cresceu de 54 milhões para 73 milhões. À primeira vista, esses números parecem alarmantes. Mas quando nos aprofundamos na proporção de sacerdotes por paroquianos, surge uma narrativa diferente.
O número de sacerdotes por fiel ativo da igreja - aqueles que vão à Missa semanalmente - de fato melhorou. Em 1970, 54% dos católicos assistiam à Missa semanal, em comparação com apenas 17% em 2022. Isso significa que, em 1970, cada sacerdote atendia aproximadamente 782 pessoas que iam à Missa semanalmente, enquanto hoje, cada sacerdote atende cerca de 514. Então, por que, se a proporção sacerdote-paroquiano diminuiu, as pessoas estão argumentando que estamos vendo uma crise vocacional?
Não sou ingênuo em relação à demografia dos padres nos Estados Unidos. Algumas dioceses enfrentam reconfigurações radicais alarmantes, pois porcentagens significativas de seu clero ativo estão se preparando para se aposentar. De fato, a porcentagem de sacerdotes aposentados nos Estados Unidos aumentou de 14% em 1980 para 34% em 2020. Outros estudos mostram que a idade média dos sacerdotes aumentou consideravelmente nos últimos 50 anos.
Na minha perspectiva, isso aponta para uma questão mais profunda: uma crise de fé em vez de uma crise de vocações.
Crise de fé
O declínio na frequência semanal às Missas reflete uma tendência mais ampla de secularização e afastamento da vida religiosa. É nesse ponto que reside o verdadeiro desafio. A perda de padres não é tão crítica quanto a espiral descendente de católicos praticantes. Nosso foco não deve ser nas vocações. Deveria estar em reacender a fé dos milhões de católicos que se afastaram da adoração regular e da participação nos sacramentos. Confissão mensal. Missa semanal. Oração diária. Esse é o programa.
Assim, com razão, a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) deu início ao Reavivamento Eucarístico Nacional, uma iniciativa de três anos que visa renovar a Igreja, reacendendo um relacionamento vivo com Jesus Cristo na Santa Eucaristia. Esse reavivamento exige um foco renovado na presença real de Cristo na Eucaristia, incentivando os fiéis a aprofundar sua compreensão e seu amor por esse mistério central de nossa fé.
O Papa São João Paulo II percebeu essa tendência e a diagnosticou décadas atrás. Isso é exatamente o que o Santo Padre estava pedindo quando solicitou uma nova evangelização. "O nosso tempo, com uma humanidade em movimento e insatisfeita, exige um renovado impulso na actividade missionária da Igreja", escreveu o papa. Você não precisa ser um sacerdote ou um religioso para assumir essa missão. Na verdade, isso é apenas parte de ser católico.
O Reavivamento Eucarístico Nacional é um chamado à ação para todos os fiéis. Você buscará uma conexão mais profunda com Cristo? Você ajudará outras pessoas a se tornarem participantes ativos na vida da Igreja? Ao nos concentrarmos na Eucaristia, estamos abordando a causa principal da crise vocacional percebida: um enfraquecimento da fé e do compromisso entre os leigos. A crise vocacional é o sintoma, e a revolução é a cura. Ou seja, uma revolução da fé.
Autor: Padre Patrick Briscoe
Origiinal em inglês: Our Sunday Visitor
Nota:
(*) N.T.: Centro de Pesquisa Aplicada ao Apostolado.