Como Podemos Dar Graças Após A Santa Comunhão
Na Santa Comunhão, estamos a sós com Deus. Solidão bem-aventurada, onde a alma pode elevar-se acima do mundo, e com admiração muda, com adoração ofegante, aquecer no silêncio eloquentemente solene da Presença Divina!
Nesta solidão, onde a voz de Deus é mais articulada, podemos apoiar e sustentar nossa fraqueza consciente com a força da revelação pessoal do Deus sacramental. Nossa dúvida e medo desaparecerão diante dAquele que sozinho pode satisfazer os anseios insuprimíveis da alma.
Com generosidade inconcebível, Cristo pode conceder tudo o que pedimos e muito mais, pois a incapacidade do homem não pode limitar a generosidade de Deus. Adaptando-se, porém, às nossas limitações, Ele vela a sua glória eterna com as aparências do pão e do vinho, para não nos subjugar.
O período de ação de graças deve ser para nós, silencioso no seio do Cristo oculto, um período de recolhimento extasiado, de contemplação admirada que se maravilha com as infinitas perfeições dAquele que recebemos, de fé que torna essas perfeições visíveis e de silêncio maravilhado com a grandeza do dom. Todas as nossas faculdades devem estar sob o controle absoluto da Presença inspiradora, os ouvidos de nossa alma atentos à voz de Deus, os olhos de nossa alma enamorados da fascinação divina, banqueteando-se com nosso melhor Benfeitor.
Tampouco nossa contemplação se limitará ao tempo de ação de graças, como se estivéssemos contemplando apenas uma sombra fugaz da terra. Perdurará a visão da realidade da Presença Divina, com todo o nosso ser sob o domínio do Deus residente, que penetra nas profundezas de nossas almas e, com amor divino, engole nossa pobre e finita vida em Sua infinita vida eterna. Não olharemos para Cristo de forma intermitente, mas seremos cativados pela beleza da visão ao contemplá-la habitualmente.
As trevas de nossa natureza decaída fugirão diante da luz dentro de nós e, no resplendor de sua radiância divina, não apenas as falhas de caráter, mesmo as mais triviais, serão reveladas, mas todo o nosso ser será moralmente transformado pela Deus eucarístico.
A luz e o poder da visão, se a alma nela se concentrar, produzirá este maravilhoso efeito da Santa Comunhão. Neste sacramento, Cristo mostra claramente a Sua bondade para com a alma, para que ela possa ascender sob a sua influência para uma vida de união permanente com Ele, e ser conforme à Sua imagem.
Para satisfazer esse anseio dominante do Sagrado Coração, a alma deve despojar-se de excesso de solicitude, divorciar-se decisiva e completamente do apego ao mundo exterior e dirigir seus pensamentos somente a Cristo.
A grandeza de desejo deve caracterizar nossa ação de graças. No dom de Si mesmo, Cristo inclui todos os outros dons. Convencidos desta verdade, podemos ser ousados com Deus. Podemos abusar de Sua bondade e tentar esgotar Sua generosidade. Devemos banir toda desconfiança do Amante Infinito.
Também não devemos ter dúvidas, agora que possuímos Cristo, sobre nossa capacidade de avançar rapidamente na virtude, pois com Deus todas as coisas são possíveis, e tornar-se santo é a razão de nossa criação. Nossas energias em expansão não devem ser contraídas pelo pensamento, sugerido pelo Pai das Mentiras, de velhos hábitos viciosos; o abundante fluxo da graça não deve ser retardado pela triste lembrança de seus pecados anteriores. O medo de pecar novamente e, portanto, de um julgamento mais severo, deve ser suplantado pelo anseio de avançar na virtude por causa da maior graça recebida. Neste mistério de amor eterno, a melancolia nascida da experiência pecaminosa não deve entrar.
Ao contrário, nossa alma deve ser alegremente corajosa e calmamente confiante, elevando-se, abraçando a Deus na plenitude da fé fervorosa, até a felicidade do Céu, embora antes da Santa Comunhão estivéssemos desolados de medo e consumidos pela dor. Cristo certamente responderá a tal fé, porque essa grandeza de desejo imita Sua própria beneficência sem limites.
Uma correspondência pronta, espontânea e prática com a graça, o efeito da fé viva, acompanhará a grandeza do desejo. Possuindo Deus, a alma crescerá na consciência de uma capacidade crescente para a luz divina, e lentamente adquirirá, dentro do escopo de seus poderes limitados, o conhecimento da plena grandeza do amor de Deus. O crescimento mental é medido pela contemplação prolongada de um estudo particular ou de um objeto definido. O maior domínio de uma ciência depende do anseio por sua aquisição.
Quanto mais a mente progride na verdade, mais ampliada e desenvolvida se torna sua capacidade de receber mais verdade.
À medida que o horizonte do conhecimento se alarga, o poder de compreensão da mente aumenta e o desejo por mais conhecimento acompanha o maior poder de inteligência da mente.
A mesma verdade é vista na ordem espiritual. Quanto mais desejarmos conhecer a Deus, mais clara será nossa visão Dele. À medida que a visão aumenta, também aumentam a capacidade e o desejo da alma, e eles continuarão a crescer por meio de sua ação mutuamente responsiva um sobre o outro.
Quão verdadeiramente única é a revelação eucarística para nós, apesar do véu impenetrável que envolve nossa visão! No Santíssimo Sacramento, Cristo obscurece o brilho da glória eterna de Sua manifestação, ocultando Sua presença. E, no entanto, que paraíso sedutor é o brilho persistente dessa comunicação para a alma pura! A bondade de Deus em toda a sua beleza imaculada não é escondida da criatura. Isso é tudo o que a alma precisa para ser convencida com força e convicção peculiares de que uma Santa Comunhão pode nos tornar santos.
Pois este dom que esquadrinha os tesouros do poder onipotente, um reconhecimento de nossa total indignidade, acionado por sincera humildade, é nosso melhor ato de ação de graças, especialmente quando contemplamos a visão das infinitas perfeições de Cristo que nos são misericordiosamente concedidas. Como o Deus sacramental que, por ser eterno, não pode mudar, a revelação de Sua luz na alma é constante. A constância, portanto, no serviço de Deus desenvolverá a alma para maior difusão desta luz. Os prazeres sedutores do mundo não devem obscurecer a visão, ou ofuscar a luz, esfriando o ardor de nosso desejo de sempre segui-lo pela crescente conformidade com Aquele a quem Ele se manifesta.
Se andarmos na glória refletida da santidade de Cristo dentro de nós, Ele, nosso Amante eucarístico, nos iluminará para que possamos detectar instintivamente a traição dos anjos das trevas, e Ele "dirigirá nossos pés no caminho da paz", até que Ele levante o véu e entremos naquela eternidade de bem-aventurança que é incapaz de esgotar a beleza da visão.
Autor: Pe. John A. Kane
Original em inglês: Catholic Exchange