Como Amar Como Um Servo de Deus
Os comunistas do Vietnã aprisionaram o Cardeal Nguyen Van Thuan, mas o amor heróico o colocou no caminho da santidade.
O falecido Cardeal Francis Xavier Nguyen Van Thuan está no caminho da santidade por causa de sua fé e amor extraordinários em meio a muitos sofrimentos e maus-tratos após a Guerra do Vietnã. Ele ficou preso pelos comunistas vietnamitas por muitos anos, a maioria em confinamento solitário, porque era sobrinho do falecido presidente sul-vietnamita, Ngo Dinh Diem. Eles o colocaram na prisão sem nenhum motivo real, exceto com a desculpa esfarrapada de se certificar de que ele seria "reeducado" no novo sistema socialista Marx-Lenin. Ele passou por muitos sofrimentos, mas a partir dessa experiência, o Servo de Deus - hoje Venerável(1) - aprendeu a viver sua fé, a amar o Senhor e seus captores em meio às provações.
No início, ele questionou e perguntou a Deus por que Ele permitiria que algo assim acontecesse. Ele achava que poderia ajudar melhor seu povo como pastor - e não como prisioneiro - em tempos de provação. Ele pensava que poderia ser um recurso melhor para a Igreja sofredora e oprimida do que ficar isolado e preso. Porém, aos poucos, ele começou a abraçar a realidade e tentou viver seu sacerdócio onde o Todo-Poderoso o havia plantado!
Na época mais sombria de sua vida, o falecido cardeal aprendeu a amar aqueles que não gostavam dele. Ele encontrou força e alimento com a Missa, e às vezes, apenas com algumas gotas de vinho e um pouco de água em uma das mãos e um pedaço da hóstia na outra. Ele oferecia a Missa por seu povo com o vinho e hóstias contrabandeados como remédios para seu estômago fraco.
Em suas memórias e palestras, ele mencionava que havia momentos em que estava tão cansado, doente ou abatido que não conseguia rezar. No entanto, naqueles momentos, ele simplesmente oferecia seus sofrimentos como sacrifícios pessoais de amor pela sua Diocese e pelo povo que foi designado para pastorear, mas não pôde devido ao encarceramento. Ele aprendeu muito através do sofrimento silencioso, unindo suas adversidades com o amor redentor de Jesus Cristo pelo bem-estar e pelos bens de seu povo. Enquanto estava preso, o Card. Thuan escreveu seus famosos pensamentos em The Road of Hope [A Estrada da Esperança - sem tradução para o português]:
"Em uma peregrinação solene com milhares de pessoas, todos querem levar a cruz à frente da procissão. Mas na peregrinação de nossa vida diária, quantas pessoas estão preparadas para carregar suas próprias cruzes? Na verdade, é difícil ser um herói anônimo."
Por causa de sua bondade e amor, os responsáveis pelos vários locais em que esteve preso constantemente mudavam os guardas porque ele conquistava os corações de seus captores. Os que foram enviados para vigiá-lo queriam aprender sobre a fé porque viram nele a devoção e o amor genuínos. Os superiores não gostaram, portando, o rotularam ainda mais como um rebelde que tentou doutrinar o povo com mentiras supersticiosas. Por seu amoroso testemunho de fé e coragem, São Papa João Paulo II deu-lhe a honra do chapéu vermelho em 2001. Ele foi feito príncipe da Igreja por um amor pelo qual vale a pena sofrer - que comove os corações até das pessoas mais duras!
O Cardeal, em muitas de suas palestras, costumava dizer que o Senhor Jesus Cristo é muito ruim em matemática e, pior ainda, em economia! Como pode o Todo-Poderoso fazer algo tão humanamente irracional, imprudente ou improdutivo para buscar os que não são importantes, pecadores, abandonados ou esquecidos? Alguém que é humanista focaria nas pessoas mais importantes e influentes, uma escolha produtiva ou benéfica! No entanto, talvez apenas o Deus amoroso, que é misericordioso e gentil de coração, possa imaginar e fazer tal coisa por nós, que somos Seus amados.
Repetidamente, as Sagradas Escrituras nos lembram do amor implacável de Deus e de Sua compaixão por nós, mesmo nas ocasiões em que não o merecíamos. Ele nos perdoou às vezes em que nem mesmo podíamos perdoar a nós mesmos. Ele deu a vida por nós, embora nós, às vezes, não pensássemos que valesse a pena viver. Ele nos perseguiu quando queríamos nos rebelar e nos afastar Dele a fim de encontrar nossa felicidade autocriada e liberdade centrada no ego.
Acho que nossa sociedade fala muito sobre amor e crença em Deus. Atualmente parece ser uma tendência das pessoas simplesmente dizerem que alguém é cristão ou crente, porém alguns se tornaram tão maledicentes e, na verdade, críticos dos outros. As pessoas muitas vezes permitem que suas frustrações, ressentimentos ou raivas tirem o melhor delas nas redes sociais e outros locais públicos, de modo que parece não haver mais cortesia, respeito ou desejo pelo discurso civilizado. Muitos parecem não ter problemas em usar as Sagradas Escrituras para seus próprios interesses farisaicos ou pessoais, mas poucas pessoas permitem que a verdade divina os transforme. Parece ser mais fácil atacar os outros ou demonizá-los em vez de realmente ouvir, cuidar e amar os outros como Cristo Jesus nos ama. Se fosse esse o caso, os ensinamentos do Senhor e a morte na Cruz pelos pecadores e aqueles que O odiavam seriam em vão. Se for esse o caso, a própria experiência de vida do falecido Cardeal Francis Xavier seria em vão e não teria nenhum valor para o nosso chamado cristão à santidade, porque seria mais fácil ser farisaico, condenar e apontar o dedo contra outros sem levar os outros genuína e humildemente ao Senhor.
Somos lembrados de que o ódio, a presunção, a tragédia, a divisão ou quaisquer fatores humanos menores nunca são de Deus. Eles não são os pontos finais de nossa vocação cristã e chamado à santidade. Podemos nem sempre concordar com as pessoas ao nosso redor. Podemos ter recebido o cartão vermelho. Podemos ter sido maltratados e feridos por outros. Nem sempre podemos obter o que esperamos ou desejamos na vida. No entanto, se realmente acreditamos em Sua providência divina e confiamos em Seu amor fiel, temos que acreditar que Deus pode tornar todas as coisas boas para aqueles que O amam. (cf. Romanos 8, 28) Talvez exatamente nas tempestades, provações ou sofrimentos de nossa jornada de fé, Ele esteja usando isso para aprofundar, transformar e fortalecer nosso amor! Nunca estamos sem Ele e não podemos fazer nada sem Ele. Ele está no meio de tudo isso, então somos convidados a abrir nossos corações e convidá-Lo para tudo o que está acontecendo em nossas vidas agora. Não importa o que esteja acontecendo, somos lembrados de que Ele não desistiu de nós: buscando, perseguindo, nos chamando de volta e usando todas as coisas para nos tornar mais fortes em nossa vocação, missão e propósito cristãos - especialmente nosso chamado à santidade.
Acho que aqueles que amaram alguém podem compreender o amor de Deus - buscar, abraçar e amar alguém, mesmo quando essa pessoa nos afasta. Só esperamos que, quando a pessoa reconhecer isso, ela também retorne com um amor genuíno e abnegado. Isso é tudo o que podemos desejar ao dar tudo de nós à pessoa ou pessoas que são preciosas para nós! E se sentimos essa sensação de busca e amor fiel como seres humanos, acho que é o que Deus quer, também, de cada um de nós, que, em um momento ou outro de nossas vidas, que o amemos de volta com nosso tudo, em vez de contar como certo a Sua misericórdia e amor por nós.
Portanto, não nos preocupemos e evitemos responder ao Seu amor por nós. Mesmo que nem sempre seja fácil, vale a pena! Embora nossa sociedade ame falar sobre amor como se fosse atraente e fácil, aprendamos a colocar em prática o chamado de Deus à fidelidade. É difícil, mas amar é perseguir, buscar, chamar, cuidar, ter paciência e nos entregar total e completamente àqueles que estão ao nosso redor, para que o amor divino de Deus possa brilhar em nós e através de nós.
Nota:
(1) Papa Francisco o declarou Venerável em 2017.