Como A Crucificação Era Vista No Mundo Antigo?

O objetivo da crucificação para os antigos romanos era duplo: (1) produzir um sofrimento por morte prolongada com o objetivo de matar a vítima de forma gradual e excruciante, durando horas ou até mesmo dias; (2) humilhar a vítima e proporcionar o máximo de dissuasão contra qualquer outra pessoa que pudesse considerar desafiar o poder de Roma.
Portanto, da perspectiva das antigas elites romanas, a crucificação era uma forma de punição sem paralelo, não apenas em sua violência, mas também em sua utilidade. Agonias físicas excruciantes convergiam com a humilhação abjeta para constituir o impedimento político por excelência para qualquer um que pudesse ser tolo o suficiente para desafiar a supremacia do império.
Falando sobre os horrores que as crucificações regularmente instilavam nas mentes dos espectadores, o historiador do Novo Testamento N.T. Wright descreve a cena vividamente:
Se uma pessoa tivesse realmente visto uma ou duas crucificações, como muitos no mundo romano teriam visto, próprio sono dela teria sido invadido por pesadelos à medida que as lembranças voltassem sem ser solicitadas, lembranças de seres humanos meio vivos e meio mortos, permanecendo talvez por dias a fio, cobertos de sangue e moscas, mordiscados por ratos, bicados por corvos, com parentes chorosos, mas indefesos, ainda vigiando, e com multidões hostis ou zombeteiras acrescentando seus insultos aos terríveis ferimentos. (p. 54)
Foi por uma boa razão, então, que o grande orador Cícero catalogou essa forma de execução como a "pena mais cruel e aterrorizante" (In Verrem, 2.5.165).
Inextricavelmente ligada aos tormentos físicos da crucificação estava a humilhação social que a acompanhava. A combinação de agonia física extrema com intensa vergonha pública era parte do que tornava a crucificação uma dissuasão tão poderosa. Esse aspecto de vergonha era agravado pela prática comum de crucificar as vítimas nuas ou quase nuas, além de situar suas cruzes em locais proeminentes, como uma grande encruzilhada, uma arena pública ou uma colina alta.
Pior ainda era a associação da crucificação com a condição de escravo. Embora os escravos não fossem as únicas pessoas sujeitas à crucificação no Império Romano, as fontes históricas deixam claro que, quando um indivíduo era crucificado, ele - ou, em alguns casos, ela - estava sendo deliberadamente enquadrado como escravo, com toda a degradação social que vinha com esse enquadramento. Isso ajuda a esclarecer a radicalidade da dramática declaração de São Paulo em Filipenses 2 de que o Deus Todo-Poderoso "esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo" (v. 7).
Em suma, essas considerações históricas servem para nos lembrar do imenso estigma social associado à crucificação no antigo mundo romano. Colocar-nos no lugar de um cidadão do primeiro século do mundo mediterrâneo não é uma tarefa fácil, mas quando se trata de meditar sobre a paixão e a morte de Nosso Senhor, faríamos bem em refletir sobre a pura angústia, o horror e o escândalo associados a esse terrível método de morte que Ele escolheu livremente para se submeter por nós.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center