A Vergonha Dos Pastores Covardes
Há uma batalha espiritual em andamento no coração decaído da humanidade.
Fomos criados por Deus e para Deus. Nossa alma naturalmente anseia por Ele e pelas coisas que O cercam. Nossa queda, no entanto, deseja as coisas passageiras da "carne", o amor desordenado pelo prazer, conforto e poder. A batalha se trava dentro de nós.
A batalha reflete os dois caminhos descritos pelo Senhor Jesus, um que leva à vida eterna e o outro à perdição. (Mateus 7, 13-14) É a tensão por trás do caminho do Espírito e do caminho da carne descritos em muitos lugares por São Paulo. Ela está por trás das duas cidades de Santo Agostinho, dos dois padrões de Santo Inácio de Loyola e - mais recentemente - das duas culturas do Papa São João Paulo II. A batalha é real, tangível e observável.
A batalha espiritual é a razão da guerra cultural em nosso mundo contemporâneo. Assim como no coração humano caído, o mesmo ocorre na sociedade. Nenhum fiel busca uma guerra cultural, nenhuma pessoa de boa vontade a deseja. Entretanto, uma guerra cultural existe sempre que dois modos de vida estão competindo pela alma da humanidade.
A evitabilidade de uma guerra cultural é claramente visível para aqueles que buscam o caminho da virtude e da santidade. Uma guerra cultural não é estranha para aqueles que buscam trabalhar sua salvação em Jesus Cristo. É uma condição quase óbvia num mundo caído que procura a redenção para além dos seus próprios engenhos e manobras. Foi compreendido, percebido e elaborado pelos santos, mestres espirituais e místicos por mais de dois milênios..
Portanto, é peculiar quando os pastores contemporâneos da Igreja nos dizem que não há guerra cultural ou que alguns entre nós estão criando e alimentando desnecessariamente uma guerra cultural, ou que somente aqueles que prosperam na contenda estão perpetuando a ilusão de uma guerra cultural. Dizem-nos para acreditar que qualquer indício de reconhecimento de uma guerra cultural é divisivo, enganoso e contrário ao Espírito de Jesus Cristo.
Tal perspectiva está muito longe da esperança que deveríamos ter de evitar uma guerra cultural por meio de um triunfo da virtude, uma vitória da piedade, conversões em massa ao Evangelho e a busca ativa da graça na vida das pessoas e da sociedade.
A mensagem que nos é passada hoje é muito diferente.
Na história, muitas vezes nos falam de cidades ou postos avançados durante várias guerras que continuaram a lutar depois que um armistício foi assinado. O posto avançado não estava ciente da rendição de sua liderança e, por isso, continuou a lutar.
Muitos fiéis de hoje estão começando a se perguntar se a bandeira branca da rendição foi erguida pelos membros da Igreja, enquanto muitas das tropas - os batizados no meio do mundo - ainda estão na batalha, lutando o bom combate e trabalhando para que a bondade e a justiça triunfem no coração humano e na sociedade.
Muitos cristãos batizados estão começando a se perguntar: "Será que perdemos?"
Tal pensamento é chocante, pois o Evangelho não é capaz de fracassar. Mas ele expressa a necessidade de clareza e afirmação. A rendição só foi oferecida por aqueles que nunca apareceram para lutar, ou por aqueles que apareceram, mas decidiram que a luta não valia a pena, ou por aqueles que começaram a lutar, mas ficaram desiludidos com a cruz de Jesus Cristo. Eles se deixaram comprometer ou seduzir e começaram a confiar em algo diferente da promessa de vida eterna do Senhor Jesus.
Embora o exemplo histórico de postos avançados lutando depois de uma rendição possa ajudar em alguns aspectos, o exemplo cai por terra com relação à guerra cultural. Batalhas são travadas aqui e ali; nações se erguem e caem ao longo do tempo. Mas a batalha do Corpo de Cristo - a batalha mais central da história humana - é pela própria salvação do mundo. E essa batalha determina a saúde da Igreja, sua eficácia em proclamar o Evangelho e dar verdadeiro testemunho do Senhor e Salvador da humanidade.
E ela envolve o destino eterno de inúmeras pessoas em nosso mundo atual que precisam da redenção e da esperança que nasce dela, seja ela reconhecida ou negada.
Muitos pastores da Igreja hoje imitam o Rei Saul de Israel. Deus fez de Saul o homem mais alto de Israel. Ele o abençoou com força e destreza militar. No entanto, quando os filisteus chegaram, o rei conduziu suas tropas à estagnação, sentando-se atrás das formações de batalha, chafurdando na dúvida e na incerteza, evitando covardemente uma luta até mesmo pela honra de Deus e procurando um caminho para evitar a batalha e viver uma vida de conforto e respeitabilidade.
As blasfêmias de Golias foram ignoradas e não reprimidas. O homem mais alto de Israel tremeu diante da ameaça.
Um pequeno pastor, com pedras e um coração corajoso, tomou uma posição, falou a verdade e defendeu a majestade de Deus. De muitas maneiras, o jovem Davi reflete muitos dos batizados que - apesar dos Sauls atrás deles - ainda sabem a diferença entre o certo e o errado, a luz e as trevas. Eles veem a batalha espiritual e estão dispostos a lutar pela verdade, bondade e santidade.
Há pastores entre nós que deveriam ser reis e generais - os mais altos entre nós - que se encolhem e se tornam escravos de um mundo caído e suplicantes ao caminho da carne. Eles negam a própria batalha para a qual foram criados e a qual deveriam liderar o ataque. Sua falta de ação, pecados de omissão e ausência de coragem são sua vergonha eterna.
E, no entanto, sem a liderança robusta e forte que deveria ser dada a eles, ainda há muitos cristãos batizados - pequenos pastores com meras pedras - que assumiram e não aceitarão a bandeira branca de uma falsa rendição de pastores rebeldes. Eles continuarão a buscar a verdade, a trabalhar pela bondade e a aceitar a perseguição em defesa do belo. Combaterão o bom combate, correrão a corrida para vencer e buscarão zelosamente a coroa imperecível que é prometida àqueles que amam a Deus.
Autor: Pe. Jeffrey Kirby
Original em inglês: CERC - Catholic Education Resource Center