A Primeira Coisa Que Jesus Ressuscitado Fez

23/04/2025

Na leitura do Evangelho do Domingo de Páscoa, ouvimos um detalhe curioso sobre o túmulo vazio de Jesus. Maria Madalena correu até João e Pedro para dizer-lhes que a pedra havia sido removida e que o corpo do Senhor havia desaparecido, e os dois apóstolos, por sua vez, correram para o túmulo para ver por si mesmos. João, chegando primeiro, vê os panos do sepultamento, mas Pedro, chegando depois, também vê "o sudário que cobrira a cabeça de Jesus. O sudário não estava com os panos de linho no chão, mas enrolado em um lugar, à parte" (João 20,7).

Esta é uma descrição estranha e estranhamente específica — uma descrição que é fácil ignorar como mera decoração. Mas merece atenção séria, porque lança luz sobre o que foi, até onde sabemos, o primeiro ato de Jesus ressuscitado. A ressurreição de Cristo dentre os mortos, sem a qual nossa fé "é vã" (1 Coríntios 15, 20) — e, de fato, todo aquele tempo sagrado entre sua ressurreição e ascensão, quando a glória da nova criação brilhou na antiga — começa com este gesto simples, mas profundamente misterioso.

O que isso significa? Gregório Magno, no século VI, oferece três sentidos espirituais fascinantes dessa passagem, concentrando-se especialmente no pano de cabeça (ou "guardanapo"). Ele escreve,

O lenço sobre a cabeça de nosso Senhor não é encontrado com as roupas de linho, ou seja, Deus, a Cabeça de Cristo, e os mistérios incompreensíveis da Divindade são removidos do nosso pobre conhecimento; Seu poder transcende a natureza da criatura.

E não se encontra apenas separado, mas também embrulhado; por causa do linho enrolado não se vê nem começo nem fim; e o auge da natureza Divina não teve começo nem fim.

E está num só lugar: pois onde há divisão, Deus não está; e merecem Sua graça aqueles que não causam escândalo dividindo-se em seitas.

Mas assim como o guardanapo é o que se usa no trabalho para enxugar o suor da testa, pelo guardanapo aqui podemos entender o trabalho de Deus: guardanapo esse que se encontra separado, porque o sofrimento do nosso Redentor está muito distante do nosso; na medida em que Ele sofreu inocentemente, o que nós sofremos com justiça; Ele se submeteu à morte voluntariamente, nós por necessidade.

Mas e quanto ao significado literal? Por que Jesus deixou para trás os panos do sepultamento, enrolou o pano da cabeça e o colocou em um lugar separado? E por que os apóstolos notaram esse fato e João o registrou?

1. Não houve roubo de sepultura.

Uma resposta clássica, que remonta a João Crisóstomo no século IV, é que os panos de sepultamento foram posicionados para desmascarar a hipótese de Maria sobre o roubo da sepultura: "Retiraram o Senhor do sepulcro" (João 20,2).

"Pois se o tivessem levado embora", argumenta Crisóstomo em uma homilia, "não o teriam despojado; nem, se alguém O tivesse roubado, teriam se dado ao trabalho de embrulhar o guardanapo e colocá-lo em um lugar à parte, além das roupas de linho; mas teria levado o corpo como estava. … Pois a mirra faria o linho aderir ao corpo"; portanto, desembrulhá-lo teria sido um processo meticuloso. Nenhum ladrão de túmulos poderia ter levado tanto tempo ou ter sido tão cuidadoso. De fato, o Evangelho acrescenta que depois que "aquele outro discípulo", entra no túmulo com Pedro, e "viu, e acreditou" (João 20,8).

Um fator complicador na explicação de Crisóstomo é o estranho esclarecimento no versículo seguinte: "Pois ainda não tinham compreendido que, conforme a Escritura, ele devia ressuscitar dos mortos". Nenhuma autoridade menor do que Agostinho tira uma conclusão incômoda desses dois versículos juntos: "Ele viu o sepulcro vazio e acreditou no que a mulher havia dito", ou seja, que Jesus havia sido levado do sepulcro. A "crença" de João, pensa Agostinho, não era na ressurreição, mas sim no relato de Maria de que alguém havia roubado o corpo; portanto, os panos não serviam como evidência disso - pelo menos não naquele momento. Em apoio à visão de Agostinho, ouvimos que os discípulos voltaram imediatamente para casa e trancaram a porta (João 20, 10. 19), o que sugere uma atitude contínua de derrota e medo.

Tomás de Aquino, em seu comentário sobre esta passagem, apresenta a leitura de Crisóstomo e de Agostinho, mas parece favorecer a do primeiro, dando-lhe a última palavra. E esta se tornou a opinião majoritária: a de que a crença de João era na Ressurreição e, portanto, os panos serviam como evidência disso.

Quanto ao sentido do próximo versículo, há várias propostas. Talvez "eles" se refira a Pedro e Maria, não a Pedro e João; ou talvez seja apenas o contexto bíblico completo da Ressurreição que eles ainda não entendem, o que significa que a crença de João ainda era incipiente; ou talvez a frase simplesmente signifique que ele ainda não havia acreditado até aquele momento.

Independentemente de onde estivermos nesse debate sobre a reação de João, uma coisa parece clara: os panos comunicam, por si só, que não se tratava de roubo de sepultura.

2. Ressurreição, não ressuscitação.

Mas isso não parece, por si só, inadequado para explicar o primeiro ato do Cristo ressuscitado? João, como os outros, não o veria logo em seguida com seus próprios olhos e se alegraria (João 20, 20, 1 João 1)? E nós, séculos depois, não acreditaríamos sem vê-lo (ou sem ver o túmulo vazio), independentemente de João ter notado os panos ou não? Os panos são certamente uma evidência adicional, em retrospecto, em apoio à Ressurreição, mas essa evidência não parece essencial nem para João nem para nós.

Aqui, um segundo significado se apresenta: o contraste com a ressurreição de Lázaro por Cristo e, portanto, a qualidade única da própria ressurreição de Cristo. Lemos anteriormente no Evangelho de João que Lázaro foi sepultado com lençóis e um pano para a cabeça, e ele saiu da tumba ainda envolto neles. É Jesus quem ordena que ele seja desatado (João 11, 44). A ressurreição de Lázaro é apenas parcial e provisória; ele foi ressuscitado, mas um dia será atado novamente pelas "ondas da morte" (Sl 18, 4).

Jesus, por outro lado, deixa todas as amarras para trás no túmulo, controlando totalmente cada detalhe. Essa ressurreição foi, portanto, qualitativamente diferente da de Lázaro e de qualquer outra coisa no quadro de referência dos discípulos. Cristo não estava de volta dos mortos como um zumbi ou um fantasma; ele estava, de alguma forma, acima e contra a própria morte, do outro lado dela. "O sepulcro vazio e os lençóis deixados no chão significam, por si mesmos, que o corpo de Cristo escapou aos laços da morte e da corrupção, pelo poder de Deus" (CIC 657).

Isso também pode ajudar a explicar por que o pano da cabeça recebe uma atenção tão especial. A cabeça é, claro, o local distintamente humano da visão e do pensamento e, portanto, de tudo o que acontece de errado com ambos: a concupiscência dos olhos, o obscurecimento da mente (1 João 2,16; Efésios 4,18). É também o local do "salário do pecado" (Rom. 6, 23), ou seja, da morte biológica. Ao colocar o pano da cabeça de lado, Jesus ressalta, com grande sutileza, uma mensagem de esperança: o pecado e a morte não têm poder sobre ele - ou sobre nós. ""Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos" (Apocalipse 1,17-18).

3. Uma "primeira comunhão" do céu e da terra.

Mas este segundo significado também não nos deixa em busca de mais? Parece que Jesus poderia ter comunicado esta mesma verdade essencial deixando os panos em dois montes desordenados. Por que esta atividade de enrolar ou dobrar o pano da cabeça? É apenas um sinal "extra" do fato único da Ressurreição? Ou talvez haja um terceiro significado aqui — um que não se move do ato para a verdade da Ressurreição, mas sim o contrário?

Imagine o interior do túmulo naquele primeiro momento sagrado da manhã de Páscoa. Imagine o silêncio, a escuridão, o cheiro persistente de sangue. De repente, lá está Ele: "A morte foi tragada pela vitória" (1 Coríntios 15:54). A batalha terminou, e Cristo — embora ainda carregando suas feridas — triunfa sobre todas as trevas do mundo. O Pai olha para Ele, e Ele olha de volta. Um novo mundo chegou.

E agora? Ele poderia imediatamente rolar a pedra e sair; em vez disso, ele permanece. No sepulcro, há apenas duas coisas: ele mesmo e seus panos de sepultamento. Ele está glorificado; os panos, não. Ele habita um novo mundo; eles habitam o antigo.

No entanto, em vez de transformá-los em outra coisa ou até mesmo obliterá-los, Ele dobra amorosamente o pano da cabeça com Suas mãos perfuradas. Aquele que faz "novas todas as coisas" (Apocalipse 21, 5) primeiro faz esse pano novo. Essa é, por assim dizer, uma "primeira comunhão" do céu e da terra após a Ressurreição - uma primeira degustação, aqui e agora, das "primícias" do que está por vir (1 Coríntios 15, 20) - e uma leve mudança de ritmo após esse grande ponto de inflexão. Embora Ele não leve o pano consigo, Ele o reivindica para Si por meio de Sua ação pacífica sobre ele. Esse é, ao mesmo tempo, um ato humano extremamente simples - o menor sinal de boa ordem familiar a qualquer pessoa que já tenha lutado por uma pilha de roupa suja ou uma colcha - e santificado além da medida pelo envolvimento do Senhor. Não existe assunto pequeno demais em Suas mãos. Entrar na vida da Igreja peregrina na Terra é entrar nessa obra sagrada iniciada no sepulcro, reunindo-se com Ele em vez de se dispersar (Mateus 12, 30, Lucas 11, 23).

O primeiro ato de Cristo com os panos de sepultamento de fato fornece evidências da Ressurreição e transmite seu significado único. Isso não foi um roubo de túmulo ou ressuscitação; se fosse, os panos também não estariam presentes. Mas talvez também possamos ver nele uma primeira e misteriosa encenação, por Cristo, da nova criação - e um poderoso resumo do que significa viver e morrer como cristão.

Autor: Matthew Becklo

Original em inglês: Catholic Answers